sábado, outubro 14, 2006

O burburinho discriminatório do costume

Há cerca de um ano foi admitida na Escola da Feira uma menina com dificuldades motoras e infectada pelo HIV. Os pais das outras crianças reagiram mal, mas após um braço de ferro, muita sensibilização, muita informação e insistência a menina ficou mesmo na escola para aceder a esse direito fundamental à educação e à não discriminação.
Este ano a mãe da menina, igualmente infectada, foi admitida na mesma escola a prestar trabalho como tarefeira, encarregando-se das limpezas, mas naturalmente acompanhando, como acontece na generalidade das escolas, as crianças e sobretudo a sua filha, pelas dificuldades motoras que tem e para evitar que a menina caia e que haja sangramentos.
Pois bem, os pais de 17 meninos, recusam-se a entregar os seus filhos na escola, escondendo-se sob um falacioso argumento de que pretendem uma pessoa qualificada para acompanhar a menina que tem dificuldades motoras.
Pois é evidente que ninguém acredita nisto. Como bem argumenta a escola ninguém tem de ser licenciado para fazer limpezas. Além disso, certamente esta mãe sabe acompanhar a sua filha.
Lamentavelmente estes gestos discriminatórios ainda vão acontecendo... lamentavelmente entre estes pais hão-de estar muitos crentes, que vão à missa, que batem no peito, que dão esmolas por caridade... mas que não se coibem de estar a pedir o despedimento de uma pessoa cujo único crime é não ser saudável e cujo risco de contágio que representa para aqueles meninos é quase nulo.
dass

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo inteiramente com o comentário, excepto quando falas em ir à missa e bater com a mão no peito. Não tens que misturar as coisas, nem tens que fazer juízos das pessoas que vão à missa. A fé é de cada um e a cada um pertence, mas a ida à missa não tem que ser sinónimo de qualquer coisa. Eu vou à missa para reforçar a minha fé e não vou lá para ser aquilo que os outros querem que eu seja. Não serei, ou melhor, não sou perfeito mas que eu só aprendo coisas boas na missa, isso não tenhas a menor dúvida. Mas, como não sou perfeito, por vezes não consigo pôr em prática aquilo que lá aprendo.
Certamente tu, que não frequentas a missa, farás melhor do que eu.
José Santos

Anónimo disse...

Concordo inteiramente... mas sabes? Como mãe recente tenho dúvidas de qual seria a minha postura. Nunca confrontaria a escola com a decisão de despedir a mãe ou mandar embora a menina... mas confesso, e confesso de forma humilde, talvez mudasse o meu filho de escola. É que para uma mãe, ou pai, não é fácil, seja em nome de que princípio for, por mais justo e incontestável, colocar em risco, ainda que de uma milésima, um filho.
esta é daquelas situações muito difíceis de resolver, e parece-me que eu optaria pela mais fácil...

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