domingo, agosto 17, 2014

Domingos de loucura

UComo passar um domingo, cheio de calor, em pleno mês de Agosto?
Fácil. É a loucura: fui arrebanhada para levar a mãe e a amiga a visitar dois cemitérios, um na Figueira e outro na Pampilhosa. É um dia de praia diferente.
Primeiro impacto: estão mais de trinta graus e a vizinha vem de camisola de lã, de manga comprida, sim, uma camisola de malha. Há que convencer a senhora a tirar a camisola, sim, porque debaixo daquela ainda há blusa e camisolinhas.
Depois, não esquecer: é suposto lembrar as senhoras que têm de ir bebendo água. Mesmo com reclamações, de que não têm sede.
Preparemo-nos: a mãe reclama, com pressa, a toda a hora. Obviamente este meu mau feitio não foi obra do acaso, nem do Espírito Santo. Pensando melhor, do Espírito Santo pode ter sido, afinal a mulher não saí da missa. Mas, obviamente, foi do Espírito Santo Mau.
Para melhorar são as duas surdas que nem portas. Mas, obviamente, sem aparelho.
Isso significa que falam as duas ao mesmo tempo: uma ao meu lado, a outra no banco de trás. Depois irritam-se mutuamente porque a uma pergunta a outra responde sobre outra coisa qualquer. 
Eu estou na nobre missão de conduzir, estremecer com os gritos e traduzir as conversas pausadamente e em tom audível, servindo de interlocutora de ambas. Esqueçam música.
Cumprida a missão dos cemitérios, há que zarpar dali. Sim, que não é nada agradável estar a pensar que se merece ganhar o céu, quando se está num jazigo onde permanecem vazias, a ameaçar, duas prateleiras. Com a sorte que eu tenho o Euromilhões há-de vir no dia de São Nunca, mas este prémio é capaz de me ser atribuído com carácter de prioridade.
Vamos, por fim, almoçar, Santa Luzia.
Mais uma vez temos de pôr ordem na casa. O raio das velhas querem rodízio. Era o que faltava.
Eu quero peixe, rodízio para mim é banana frita e salsicha, abacaxi e chega. Obviamente que me guardo para sobremesas. 
Em contrapartida se as ponho a comer rodízio: uma reclama entre cada tempo de espera, primeiro que percebam o que eé cada peça estou tramada, eu e os empregados. E depois temos outro ligeiro problema incompatível com rodízio: uma come como se não houvesse amanhã (ao almoço), o que significaria que, ainda que a reclamar do tempo, estaríamos aqui uma eternidade.
Esta coisa de cemitérios, ganhar o céu e eternidade, não me está a soar nada bem.
Mas o pior seria a outra, a amiga, que quereria levar o rodízio todo para os cães, em casa. E não sei se havia como lhe explicar que isto não funciona assim.
Por fim querem peixe.
Eu escolho o peixe, com meia ajuda delas, que estão sempre mais concentradas nos pratos das mesas alheias do que na ementa.
Sim, continuam a reclamar porque uma come entradas, a outra acha que é muito pão...
Não sei se já referi que reparam que na mesa ao lado comem muito e que há umas mulheres aqui que são doidas a beber.
Há ainda o pormenor de estarem convencidas de que nos outros carros vai gente do Governo, tais são os mimos com que os brindam.
Vou regressar, quero ir à feira de velharias na Figueira da Foz. É coerente.





2 comentários:

Anónimo disse...


:)

Anónimo disse...


Para o ramalhete estar completo, falta “un je ne sais quoi”. Se não vejamos, imagine que tinha sido premiada com a fava quando comprou o bolo-rei. Saiu-lhe um marido. O gajo levanta-se aziago nesse domingo, ninguém está disponível para aturar sogras ao domingo e durante muito tempo menos ainda. Para engolir sapos, já basta a semana de trabalho. Senta-se ao volante e resmunga o tempo todo. Irrita-se com o carcarejar que o rodeia (gajos não apreciam barulho para além do que os motores emitem). Atrás, no meio das velhas, um puto naquela idade ranhosa, em que nem ao estalo as coisas vão. Dedilhando a consola o tempo todo e a gritar de 30 em 30 segundos: mãe, mãe, mãeeeeee... só pára, quando olham para ele e lhe respondem. Depois o pobre (putativo marido) tem que a aturar a dizer: Sim porque é com a minha mãe. Estás sempre de trombas. Fazes sempre a mesma cena, senão querias vir, tinhas dito.
Não há santo de pau, que aguente este purgatório durante muito tempo. Assim até parece que o Espírito Santo, o bom, a protege de mais uma discussão e uma noite sem sexo, por birra.
:)

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