O nevoeiro que vem de Belém
por maria l. duarte, em 02.01.15
Todos ouvimos a repetição da mensagem do Presidente da República (inequivocamente, repetição).
Mais uma vez, sem qualquer pejo, Cavaco fez o que faz sempre. Cumpriu a sua agenda. Embrulhou a sua vontade e serviu-a (e, claro, achou que ninguém percebeu).
Como é que este homem foi Primeiro Ministro 10 anos, e há-de ser Presidente da República outros tantos? E, obviamente, como é que não há-de julgar que impõe a sua vontade aos portugueses?
Reeditar as conversas em família, com a fotografia do clã virada para as câmaras, é só um apontamento.
Podia ter as paredes forradas com fotografias dos amigos Espírito Santo, Duarte Lima, Dias Loureiro, Durão Barroso, o Presidente do BPN, e outros afins, ficava-lhe bem.
O que fez o Presidente da República em 9 anos de Belém?
Fez isto mesmo, eriu a sua agenda. Geriu notícia, até se anunciou escutado, ah e tirou fotografias de família.
Como exerceu os seus poderes?
Com ar de quem manda, pois claro. A receber os políticos meninos no seu palácio. E eles lá vão, com ar de quem vai ao gabinete do director dos colégio.
Mas, em concreto, exerceu poder? Há quem julgue que não. Eu penso que sim.
Escolheu exercer esses poderes no alinhamento - repito-me - da sua agenda, da sua ideia de governo, de forma cúmplice e colaborativa.
Era isto que se esperava de um Presidente da República quando o país mais necessitava de um bastião, um último reduto de humanização de folhas de cálculo, em tempos de crise? Obviamente que não.
Os limites da defesa da dignidade da pessoa, do Estado de Direito, da Constituição da República Portuguesa foram realizados apenas, e sem poderes oficiosos, pelo Tribunal Constitucional. Que troika, Durão e PM atacaram sem respeito pelos portugueses e pela soberania que Portas não se cansou de dizer que estava diminuída.
Cavaco insiste em cada mensagem, em cada discurso, em cada prova de vida no «eu avisei, eu alertei, eu chamei a atenção».
«Bem prega Frei Tomás, (...)», lá diz o ditado.
Convenhamos, as mensagens de Cavaco são como as previsões do horóscopo. Pejadas a ideia de poder de influência de quem as debita, e em modo «abstracto ou dá para tudo».
Falar não é fazer. Falar e não usar os poderes para levar a fazer, não é nada.
A Presidência da República era uma magistratura de influência. Agora tememos todos que só reste a influência.
E cada vez mais aprendemos que as influências, o abrir portas, raramente serve os portugueses. Ou, pelo menos, a maioria dos portugueses.
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