O segredo de justiça, e a sua violação (também), vão parindo, sistemática e insidiosamente, instantâneos. Pouco esclarecedores, sem visão global, peças de um puzzle, que um dia encaixarão, ou que, afinal, eram peças acessórias, sem interesse, sem história. Todos os dias os jornais vendem: mais uns milhões numa conta qualquer, mais uma ligação entre amigos e empresários, mais umas obras públicas, ajustes directos e derrapagens, umas offshores, influências políticas, empresas fantasma, proximidade a professores fulcrais em licenciaturas. Peça a peça, vai-se construindo a condenação pública, o rumor de fundo da prevenção geral.garante-se que a comunidade só fique em paz com uma condenação exemplar. Contudo, não tenhamos dúvidas haverá muitas peças, se calhar mais escabrosas e congruentes que aqui faltam, e muitas destas não passarão, sequer, de pura especulação. A certa altura, o fumo é tanto, que os cidadãos, em dificuldades diárias, já não querem saber como estes "bandidos e ladrões" são condenados, basta que o sejam. "Deviam lá ir parar todos". Pois a mim continua a interessar-me, sobretudo, o "como" da justiça. Estas peças jornalísticas, de quem por nada terá de responder - era a informação "nesta altura", o rumor, o que se conseguiu apurar, uma parte de um todo, relevante ou não, exactamente assim, ou não - têm mãe. Estes filhos, que tão ditosa mãe pariu, têm por progenitor o Segredo de Justiça e também (o que é mais preocupante, a sua cirúrgica violação). Enquanto correm os tempos (prazos) da justiça, ultrapassados ou não, o interesse público requer informação. Informação que vamos recebendo de forma esparsa, instantânea, apenas aquilo por que, se o cidadão não vier a ser condenado, deveria. Informação que é tanto mais insidiosa quanto, cada um de nós, pensará: isto tem algum fundo de verdade, porque será algo que o jornalista sabe que faz parte do processo, da investigação. Mesmo que o não seja. A defesa não tem tanto interesse, nem tanta informação, nem os contra-factos venderiam. Vendem os fundamentos da defesa, as peças apresentadas, mas nada mais do que isso. Não há contra-personagens para detonar com pseudo-factos ou ligações. O tempo conta sempre contra quem é o alvo. Mas, que raio, eu vivo na província. Não tenho conhecimentos, nem ligações. Mas é caso para perguntar: senhores jornalistas, estas figuras já eram de cúpula, estão aí em Lisboa, os rumores já existiriam, estes e mais, onde andavam as vossas fontes, a vossa investigação, (ou a vossa vontade de agradar a poderes instiuídos), será isso?
RIP CU(RL) - 2005-2012
Há 12 anos
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