segunda-feira, janeiro 04, 2016

Número Portas



Não sei se é exactamente o número 2015 ou 2016, o que sei é que não há ano que termine sem um número Portas. Vejamos:
- n.º de militante (juventude) do PSD ou de visitas a Sá Carneiro;
- vários números escaldantes do Independente, várias cabeças roladas;
- um n.° de criador, criatura e queda do paraíso, protagonizado com Manuel Monteiro;
- um n.° de sopa fria;
- n.° de eleições para líder parlamentar em que uma caneta falha;
- n.° Moura Guedes deputada;
- n.° de despachos assinados por Telmo numa noite ou duas;
- n.° de fotocópias de arquivo pessoal;
- um sem n.° de feiras, de boinas, de lavradores, de pensionistas, de veteranos de guerra;
- um n.° que provavelmente mais parece um número telefónico, de tão obsceno (para citar um amigo que ainda por cima milita pelo líder), de tridentes e primos;
- um n.0º de sobretaxa irrevogável;
- números de sondagens e margens de erro ultrapassadas;
- uma lemniscata de números de vítima;
- n.° Limiano e números loucos com a figura do Marco de Canavezes; 
- n.° de nozes, cortiça, azeitonas, azeite, mel ou sei lá o quê que ofereceu em debate parlamentar;
- n.° de miséria franciscano para CR7 divulgar Portugal;
Lista não exaustiva de quem brilhava no exterior como um rei Midas em visitas oficiais - e admito já que aqui possa haver erros e confusões que o número da minha idade já pesa.

Mas não terminamos 2015 sem o seu grande número. Portas a ser Portas, cujo número de neurónios lhe desconheço, mas que de burro não tem nada.

Alguém acharia que o próximo congresso ía ser um passeio pelo parque, apoteótico para Portas, como têm sido? ( Embora o último já com algum atrito)?
Portas gosta de crónicas de vitórias anunciadas, ou de morte anunciada (basta ver como se distanciou de Santana Lopes na campanha contra Sócrates).

Se há coisa que Portas faz bem - quando não se revoga- é sair pelo seu próprio pé (esticar o pé quando alguém passa também é finta para não lhe sair mal).
Portas sai antes de ser explicitamente atacado em congresso (e pode sempre repetir à exaustão o mesmo que os militantes repetem: a PaF ganhou) pelos pupilos do senhor reitor, já com sede de poder, e pelos outros.

O CDS quase deixou de ser e voltou com o PP de Portas, reconheçamos. E nada me tira da cabeça que aquele acrescento PP é a inscrição das suas iniciais no partido.
Neste momento o objectivo é que o problema "o CDS quase deixou de ser novamente", não seja de Paulinho. Se Portas já não estiver, será sempre o que esteve quando o partido voltou a ser, e integrou poder (primeiro consigo na sombra a manobrar marionetas e depois a roubar o palco). Os outros, os que lhe sucederem, serão sempre os que estarão num partido que não existe, que já não é, que deixou de ser apenas o partido da personalidade de Portas, para passar a ser o partido de guerrilha de egos.

Por mim, que adoro congressos, venha Março.
O patriarca Portas fará o número tabú, de estar ou não estar, para não tirar a luz aos pupilos.

Adorarei ouvir Melo aos tiques, a lançar perdigotos em palco e bastidores (se ganhar abdica da féria de deputado europeu?)

Cristas, que acha que já o é antes de o ser, jogará subtilmente, em bastidores e orações - que isto não serve só para chuva - e talvez aposte que Melo não queira deixar de ser eurodeputado tão cedo. É a que espera ser escolhida como se nunca se candidatasse.

Ouvir Diogo Feio tomar posição será sempre penoso, já que falar é para o próprio sempre uma enorme maçada, de demonstrada arrogância, um frete incrível que faz aos seres inferiores. Apenas comparável ao seu mau gosto para escolher gravatas.

Mota Soares já retirou a lambreta.

João Almeida, sapato castanho e tudo o resto pior, já uma vez protagonizou um número inesperado de coragem em congresso, a coragem da moção da Jota. Espera talvez que alguém se lembre, e que a Jota esteja consigo. Às tantas sonha fazer a rodagem a algum veículo novo.

Hélder Amaral, que bem podia mais ser do que o que é, foi-se apagando na chama de quem parece eternamente agradecido e a ninguém quer melindrar.

Ribeiro e Castro quer o seu momento de glória no púlpito. Embora o próprio saiba que não faz sentido protagonizar mais do que isso, quando já almejaria estar inscrito noutro. E, mesmo que o quisesse, nunca seria um Pacheco Pereira do CDS - não basta querer a mesma autoridade, a craveira intelectual do segundo é dificilmente igualável.

Telmo esteve forte nos debates da queda do Governo, mas talvez ninguém se lembre de quem tanto despacha.

O ex da economia voltou à economia, que não é homem de arriscar, mas de amealhar.

E Bagão não está para isso. Já se distanciou do morto.


Aguardo com entusiasmo ouvir o discurso de Anacoreta filho. A esta hora já terá gasto baterias de telemóveis em contactos. E o homem sabe tão bem como se faz um filho (não sei se por gosto), que até resolveu explicar na AR que frequentou o primeiro ciclo de ciências da natureza e aulas de moral.
Gosto sempre de me rir. 

Lobo Xavier é o eterno "mais depressa Jesus desce à Terra". Mas o problema são os 30 ou mais dinheiros. Lá aparecerá como figura da corte no segundo dia de congresso.

Uma certeza podemos ter: há congresso. Haverá patilhas, camisas abertas, boinas, casacos de caçador, e bandarilhas espetadas nas costas e à má fila.
Não esqueçamos: Portas pode ter dito algo como "não vou por aí", mas nunca disse "não sei para onde vou, não sei para onde vou".

Com tantos dias dedicados a Portas e o seu emocionado adeus, eu quase temi que a orfandade gritasse: Portas ao Panteão Nacional.

P.S. Tenho, porém, um mea culpa a fazer.
Eu que não compreendo programas que se dedicam a colher opiniões em estúdio por telefone, ou nas ruas, (tardes e manhãs inteiras) devo reconhecer que ouvi aí uma senhora sábia. Questionada (em plena rua) sobre a partida de Portas e a sua sucessão - e embora eu não tenha ficado convencida que a senhora não tenha julgado que ele se quinara - respondeu que "deviam pôr lá Rui Rio".
Ora, eu não podia estar mais de acordo. No CDS é que Rio estava bem. Era uma esperança de duplo desaparecimento e sempre se poupava nas exéquias.




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