A língua é a pátria, como clama Fernando Pessoa.
Brasileiros e demais irmãos desta enorme língua sentem, certamente, orgulho de Fernando Pessoa, Saramago, de Eduardo Lourenço, de Damásio, Amália, de novas e velhas referências (escolhi estes nomes sem querer excluir ninguém de tantos que admiro). Como me orgulho de Buarque, de Mia Couto, de Jorge Amado, Machado, de Pepetela, Virgílio de Lemos, Gil, Cesária Évora, de Onjaki (repito-me, todos os nomes merecedores não caberiam aqui). (Sim, também sei que alguns nomes não escreveram).
Adoraria saber Crioulo, um dia aprendo. Já terei mais dificuldade em aprender mirandês. Mas estes mantêm a sua individualidade cultural.
Mas cresço quando aprendo os termos do português com açúcar, os nomes que as coisas ganham nesta língua tão rica, na América, África ou Ásia, ou somente na forma de pronunciar os mesmos termos.
Alguém decidiu que não nos entendemos. Alguém pensou que o português só continua a ser essa língua do mundo se for unificada. A pronúncia, os sotaques, os termos únicos que se usam em regiões (mesmo dentro de cada país) não nos diminuem, enriquecem-nos. Enriquecem a língua e permitem que continuemos a ter identidade dentro da mesma língua, e a observação estende-se à escrita.
Li a Turma da Mônica, o Professor Pardal e muitos mais quadradinhos (única leitura que amava e aceitava na primária). E nessa altura em que estava a aprender a ler (porque já sou do clube dos que usam a expressão "no meu tempo"), estes livros mágicos eram escritos em português do Brasil. E nessa altura aprendi a escrever sem erros (estes vieram mais tarde, com a preguiça, os correctores ortográficos e o pc).
Dentro da pátria da língua manter identidades só nos enriquece.
As diferenças que colhemos dos nossos irmãos e aprendemos estimulam-nos. Adoro o nasalado africano que nunca se perde, como Viseu ou Guarda assentuam SS (em Ch), adoro o açúcar dos rs e esses do Brasil e as vogais que criam ditongos de sons diferentes. O Alentejo, a Madeira, os Açores dão-nos sons desta língua que nos permite identificar as origens. O Norte ou a área de Lisboa oferecem-nos uma identificação só por características de sotaque ou mesmo de termos.
Eu quero continuar a ter um português rico, que evolui com todas as diferenças, em que todos nos entendemos na partilha duma mesma língua de que nos apropriamos, criando identificação e identidade, sem que excluamos ninguém.
Não, já não discuto se os outros países não adoptaram, na prática, o acordo, ou se o Brasil o impõe agora.
Mas sinto que nos roubam, a todos, identidade. Que todos (de cada um destes países) estamos a permitir que a língua encolha, por decreto, em nome de que ela passe a ser o que já é: Português de todos que o falam.
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