Sempre que Portugal se supera, tem grandes feitos ou contribui para um mundo melhor, tenho orgulho de ser portuguesa. E respeitar os direitos humanos, respeitar as diferenças, terminar com a não discriminação e garantir mais adoptastes capazes para crianças que precisam de amor só pode ser evoluir.
Portugal é um dos países em que o casamento por pessoas do mesmo sexo é reconhecido, e não deveria existir um único país onde assim não fosse - devia ser uma não questão.
Portugal, hoje, eliminou qualquer entrave à adopção por casais do mesmo sexo ou apadrinhamento civil. O superior interesse da criança não é o que está em causa nesta discussão. O superior interesse da criança é não estar numa instituição e ter a sua família de amor, preferencialmente a biológica.
São os técnicos que caso a caso avaliam a capacidade de alguém para ser adoptante, assim como asseguram - não só nos elegíveis à adopção em geral, como nos elegíveis a uma adopção em particular - que o superior interesse da criança está acautelado.
O que não faz sentido é aprioristicamente dizer a um homossexual que não tem direito de adoptar, que é menos capaz, que tem menos direitos, que é menos capaz de amar um filho, que é menos capaz de dar estabilidade, colo e família a uma criança ou que não é digno de ser pai. Ou dizer-lhe, finges que és heterossexual, adoptas, depois o teu parceiro ou futuro marido/mulher co-adopta.
No mundo real há crianças que são filhas de pais homossexuais que só tardiamente se assumem e convivem, assim, com os seus parceiros. Há filhos de transexuais que só tardiamente conseguem reconhecer que viviam dentro de um corpo que não correspondia ao seu verdadeiro género e só aí iniciam o processo, e os filhos convivem com essas mudanças.
O amor é real e a criança que tenha amor e estabilidade, um colo, viverá mais feliz na diferença do que na indiferença. Não há nenhuma instituição que seja um lar, por mais cor-de-rosa que sejam as suas paredes e por mais idílicas que sejam reportagens televisivas.
Não se preocupem com a "confusão", as crianças descomplicam pelo amor. Não se preocupem com a crueldade das outras crianças. Todos merecem ser educados para a diferença, porque a não ser assim teremos de perceber que a pobreza é alvo de crueldade, os defeitos físicos são alvo de crueldade, a cor da pele é alvo de crueldade, a religião, a etnia e tantos outros pontos externos ou internos. O que fazemos? Impedimos pais de ser pais, impedimos crianças de ser crianças?
Num país de grave taxa de alcoolismo, de elevados índices de violência doméstica, abusos sexuais, miséria, fome e iletracia, vamos preocupar-nos com as crianças que vivam em famílias que as amem, porque há diferenças que não magoam, que não diminuem, que não excluem?
A designação "arco-íris" é universal, com história. Ainda assim, eu não a uso.
Para mim resume-se a:
- Há famílias com amor, famílias sem amor e disfuncionais;
- Há sexualidade em cada um de nós, em qualquer idade, com parceiro ou sem ele;
- Há sexo com companheiro, sem companheiro, sexo por sexo, há amor, fazer amor, com parceiros do mesmo ou de outro sexo - por mim, apaguem a luz ou deixem-na acesa, tanto me faz.
Maria